domingo, 7 de maio de 2017

Shri Mataji Nirmala Devi - Mulheres Espiritualizadas 5

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Shri Mataji Nirmala Devi, (Chindwaraa, Índia; 21 de março de 1923 - Genova, Itália; 23 de fevereiro de 2011), fundadora da Sahaja Yoga, foi uma personalidade espiritual única, que revolucionou o yoga, ao oferecer, pela primeira vez na história da humanidade, o despertar da energia divina Kundalini ao grande público. Dedicou sua vida à causa da paz do mundo, mas lembrava sempre que esta paz tem que ser obtida antes no interior de cada indivíduo.
Desde criança, Shri Mataji foi reconhecida como um ser muito especial. O Mahatma Gandhi convidou-a a viver em seu ashram em Wardha, quando ela tinha menos de 10 anos de idade, e consultava a pequena menina sobre questões espirituais. Já na adolescência, Shri Mataji lutou ao lado de Gandhi pela independência da Índia, foi presa e torturada, mas jamais se queixou disso. A partir de 1970, Shri Mataji dedicou-se integralmente à divulgação da Sahaja Yoga por todo o mundo. Homenageada em vários países, amada pelas pessoas que encontram saúde, paz e alegria na prática da meditação segundo o método por ela prescrito, Shri Mataji era chamada na Índia e em muitos outros países de Mãe Divina.

O trabalho de Shri Mataji na Sahaja Yoga

Depois de completar seus deveres familiares de criar duas filhas, Shri Mataji embarcou na sua missão espiritual. No dia 5 de maio de 1970, ela estava meditando sobre os muitos problemas da humanidade em uma praia solitária da Índia, quando uma experiência divina e cheia de bem-aventurança encheu todo o Seu ser e Ela soube que o momento tinha chegado para Seu dom espiritual único – a habilidade de dar a Realização do Si em massa – ser compartilhado com a humanidade inteira. Logo, milhares de pessoas comuns em muitos países estavam recebendo a venturosa experiência do despertar da Kundalini e descobrindo por si mesmas que, usando as técnicas de Shri Mataji, elas também podiam transmitir essa experiência para outros, simplesmente como uma vela pode ser usada para acender outra.

Diferentemente dos muitos e assim chamados “gurus” da era moderna, Shri Mataji jamais cobrou pelos seus discursos, nem para dar a Realização do Si. Ela sempre insistiu em que você não pode pagar pela sua iluminação e advertiu sobre os perigos de ir aos muitos e auto-proclamados “gurus” e cultos, que só estão interessados em ganhar dinheiro e não são capazes de dar a Realização do Si.

Além do seu trabalho espiritual, Shri Mataji também deu início a várias organizações beneficentes, na Índia, para ajudar os pobres e os doentes. Entre elas estão um grande albergue para mães destituídas e sem-teto, em Delhi e um hospital em Mumbai para tratar pessoas por meio das técnicas da Sahaja Yoga.

Sri Anandamayi Ma - Mulheres Espiritualizadas 4

Sri Ma




















Sri Ma Anandamayi é mais uma das grandes personalidades religiosas manifestadas na Índia do século XX. Seu nome de família era Nirmala Sundari Devi, nasceu na Índia em 30 de Abril de 1896 em uma vila onde hoje é Bangladesh. Sua família Brahmane com certo prestígio, porém sem grandes posses possibilitou-lhe uma infância alegre, tornando-se uma menina de encantadora beleza e muito querida por todos que à conheciam.
Não havia completado ainda 13 anos de idade quando foi casada com Sri Ramani Mohan Chakravarty, que mais tarde passou a ser conhecido como Bholanath, por ser esse o nome pelo qual Sri Ma costumava chamá-lo. Conforme o costume, a criança-noiva foi viver sob o teto da família do marido, foi para a casa do irmão do noivo, onde viveu durante 4 anos. De uma infância alegre e descontraída foi atirada em uma situação onde lhe era exigida disciplina e dedicação à novas responsabilidades, ajudando sua cunhada nos trabalhos da casa: lavar, limpar, cozinhar, carregar água, etc. Mas nada disso alterou o semblante nem diminuiu o bom-humor daquela jovem que sempre se demonstrava feliz em ser útil. Tal simplicidade e alegria chegou a preocupar um pouco sua nova família, pois poderia ser o indício de uma mente simplória. Levou algum tempo para que percebessem que se tratava de alguém muito bem centrada e equilibrada, obediente porém não sugestionável por outros, alguém de admirável compaixão por tudo e por todos; família, vizinhos, animais e plantas. Aqueles que a conheciam podiam sentir o toque mágico de seu sincero interesse pelo bem estar de todos.
Ao completar 18 anos, com o mútuo consentimento de ambas as famílias ela mudou-se para Ashtagram para ficar com o marido onde ele vivia e trabalhava. Muito foi escrito e comentado à respeito da pureza e perfeito celibato deste casamento, porém são palavras inadequadas já que não foram levantadas por quem caberia dizer algo sobre isso.
No mesmo ano, devido a uma transferência no trabalho, Bholanath foi para Bajitpur, enquanto que Sri Ma ficou na casa dos pais por três anos antes de ir também para lá.

A cidade de Bajitpur tem um especial significado para os devotos de Sri Ma, pois foi onde em 1918 teve início a sua atividade espiritual aos olhos do mundo após ter recebido uma inspiração divina. Em suas próprias palavras Sri Ma relata:
"Um dia em Bajitpur eu fui ao poço perto da casa onde vivíamos para o meu banho diário, quando jogava água em minha cabeça a Kheyala veio a mim: Como seria viver o papel de um Sadhaka? E assim a Lila teve início."
Kheyala é uma palavra muito usada por Sri Ma, significa uma inspiração elevada, um sentimento espontâneo, uma determinação divina, Sadhaka é um termo para designar o aspirante espiritual e Lila significa brincadeira divida ou suprema diversão.

À partir daquele dia, após servir o jantar e cuidar de seus afazeres domésticos, pedia permissão ao marido para retirar-se a suas práticas espirituais.
Era uma moça singela sem nenhuma educação formal, nunca tinha tido um guru ou qualquer instrutor yogue, porém Bholanath constatou que ela simplesmente sentava-se e mergulhava nas profundezas do Ser.
No começo repetia o mantra "Hari", pois era uma feliz reminiscência de infância, um mantra que havia aprendido com o pai. Certo dia Bholanath perguntou: "Por que você diz "Hari, Hari, Hari"? Nós não somos Vaishnavas!" Sri Ma respondeu: "Devo então dizer: Siva, Siva, Siva?" Bholanath ficou satisfeito. A troca da palavra em nada alterou a prática de Sri Ma. Após alguns dias Bholanath percebeu que Sri Ma estava assumindo certas posturas yogues das quais ela não tinha nenhum conhecimento prévio. E à medida que os anos passaram o enigma aumentou ainda mais; apesar de nunca ter estudado nem recebido instrução formal, Sri Ma demonstrava profundo conhecimento, expunha à doutores e estudiosos discutindo com autoridade sobre temas difíceis e controvertidos.
Quando Sri Ma se dedicava aos mantrans mergulhava tão profundamente na prática, que parecia se tornar uma com o som que emitia, todo o seu corpo entrava em sintonia com esse ritmo transcendental, movia-se em um ciclo espontâneo emanando uma radiação de santidade tão genuína que quem presenciasse poderia sentir essa inegável atmosfera de bênçãos. Bholanath compreendeu rapidamente que sua pequena esposa era muito mais do que ele imaginava. Tanto que tornou-se seu discípulo e guardião!

Durante os seis anos seguintes Sri Ma aprofundou-se em vários tipos de práticas espirituais (sadhanas), referindo-se a este período de sua vida certa vez ela disse: "Incontáveis são as sadhanas pelas quais o homem pode trabalhar para obter a auto-realização e todas estas variedades revelaram-se a mim como parte de mim mesma." Ela falava à estudiosos das doutrinas, buscadores espirituais, ascetas, e todos se maravilhavam pelo seu brilhante e detalhado conhecimento. Anos mais tarde, Sri Ma disse que este conhecimento era ainda uma pequena fração de tudo aquilo que se havia revelado durante seus anos de sadhana.
Em 1924 mudaram-se para Dhaka. Os rumores de uma jovem dotada de dons espirituais cresceram e aos poucos os visitantes vinham cada vez mais, tornando-se devotos por toda a vida. Devido aos costumes rígidos daquele tempo, Sri Ma era um tanto quanto inacessível ao público masculino, Bholanath era a pessoa no comando e no seu justo direito mantinha o respeito ao redor de Sri Ma.

Em Dhaka Sri Ma viveu em uma atmosfera de acontecimentos miraculosos, pessoas vinham de longe até ela em busca de curas, Sri Ma frequentemente entrava em samadhi permanecendo neste estado por horas totalmente esquecida de tudo ao seu redor, mergulhada em bem-aventurança. Geralmente Bholanath tinha que trazê-la de volta do transe, chamando-a repetidas vezes. Ela sempre obediente ao marido, abria os olhos e dizia: "Você quer que eu me levante?" Ele então pedia que algumas mulheres acompanhantes ficassem falando com ela, massageando suas mãos até que ela despertasse totalmente daquele estado de "intoxicação" por Deus, se é que se pode definir assim.
Esta oscilação entre as dimensões terrena e transcendental era uma constante na vida de Sri Ma, seus seguidores habituaram-se a vê-la alternando entre os dois mundos, num momento ela estava presente, radiante participante, num outro momento retirava-se completamente para seu mundo interno.
Sri Ma e Bholanath viajaram muito extensivamente a lugares de peregrinação, os devotos em Dhaka haviam construído um pequeno Ashram para Sri Ma, mas nem mesmo isso impediu-a de deixar a cidade em 1932 acompanhada por Bholanath e Bhaiji, seu mais importante discípulo e seguidor. Foram para a região de Dehra Dun, onde surgiram novos admiradores e seguidores.

Nessa época o próprio Mahatma Gandhi tomou conhecimento de Sri Ma através de um devoto e então enviou um colaborador seu para visitá-la. Em outra ocasião, Sri Ma viajou a Wardha quando então conheceu o próprio Gandhi em pessoa. Anos mais tarde Indira Gandhi também estabeleceu estreito contato com Sri Ma.
Aquela mesma agitação de gente reunida em Dhaka acontecia novamente em Dehra Dun, haviam festivais religiosos reuniões para cantos sagrados (Kirtans) e Sri Ma era a luz central dessas reuniões. Esta atmosfera festiva teve que enfrentar duas crises: em Agosto de 1937 Bhaiji, o mais dedicado devoto de Sri Ma deixou este mundo. Não muito depois, em Maio de 1938, o mesmo aconteceu com Bholanath, seu marido.
Contrariando a expectativa dos seguidores, Sri Ma não demonstrou sinais de tristeza, ela permaneceu serena como sempre e disse: "Vocês lamentam e choram quando uma pessoa vai para uma outra sala da casa? A morte está inevitavelmente conectada à vida. Na esfera da imortalidade, que significado tem a perda e a morte? Ninguém está perdido para mim."
Fazia parte da "Kheyala" de Sri Ma mover-se continuamente, sem planejamento algum, de cidade em cidade ela seguia sempre rodeada por multidões de devotos, pessoas de diferentes idiomas e províncias. Quando a situação se tornava demasiada incontrolável ela mudava-se novamente. Os devotos construíam-lhe Ashrams em muitas cidades, mas isso nunca a impediu de seguir para novos lugares. Mesmo assim, aos poucos a "Sangha" (comunidade de devotos) foi se organizando.

Em 1940 Sri Ma já era reconhecida e respeitada entre personalidades de considerável renome na Índia, tendo sido reconhecida por ordens monásticas como sendo a quintessência da tradição Upanishadica.
Em muitos eventos religiosos aos quais compareciam maharajas, príncipes e várias personalidades de renome do meio artístico e político, a presença de Sri Ma sempre ocuparia um lugar de extraordinário glamour. Ela conheceu quase todos os dignatários políticos após a independência da Índia, suas conversas com eles eram sempre sobre Deus e sobre as aspirações divinas dos homens.

Sri Ma falava muito sobre a importância de se observar a prática mensal, senão à semanal de retiros e jejum, em 1952 Sri Jogibhai o então presidente da Sangha Sri Anandamayee, promoveu no Ashram de Varanasi o primeiro "Samyam Saptah", um retiro de sete dias com a presença de Sri Ma, no qual os devotos podiam praticar coletivamente. Os participantes observavam jejum total no primeiro e no último dia e nos demais dias havia uma única refeição por dia servida pela própria Sri Ma. As atividades de cada dia seguiam a orientação de Sri Ma; havia a prática diária individual de meditação e mantrans, após o que todos se reuniam para ouvir leituras ou discursos das escrituras sagradas, intervalo para almoço e descanso e novas reuniões ao anoitecer.
A popularidade destes retiros era fenomenal, vinha gente de muito longe, pessoas comuns e mahatmas, a melhor parte do dia era às 21:30 quando Sri Ma respondia às questões da assembléia. Aquela breve satsanga com Sri Ma alimentava as práticas do dia que passava rápido como um relâmpago.

Conforme disse Swami Chinmayananda; assim como quando o sol brilha não há necessidade de se definir o que vem a ser um raio de luz, da mesma forma Sri Ma é compreendida com simplicidade, sem necessidades de demonstrações.
Apesar de todo glamour e assédio por todos onde quer que fosse, ela viveu uma vida de asceta. Durante muitos anos comia em dias alternados uma única refeição ao dia, quando alguém se preocupava com sua alimentação ela dizia: "Não é necessário comida alguma para preservar o corpo. Eu me alimento para manter uma aparência e um comportamento normal, de forma que você não se sinta inconfortável comigo."

Sri Ma não dava importância às disputas entre religiões, raças, sexos etc, para ela tudo era O Um. Pureza na fala, nas ações e nos pensamentos é o ideal para todos aqueles que buscam a realização divina.
Quando conversava com pessoas jovens e modernas, ela se mostrava totalmente consciente das tendências atuais, mesmo assim seus interlocutores não conseguiam fazê-la concordar com suas demandas. Bem humorada, ela sempre fazia-os aceitar o seu pedido de procurar Aquele que está escondido na caverna de cada coração.

Nos últimos anos Sri Ma foi tornando-se mais retirada do público, diziam que era devido a não estar bem de saúde. Parece que não era a "Kheyala" de Sri Ma ser imune à doença, muitas vezes ela disse: "Porque vocês se sentem tão contrariados em relação às doenças? Assim como vocês elas também têm acesso a este corpo! Alguma vez eu disse para vocês irem embora?" Algumas vezes ela atendia aos pedidos e preces dos devotos sendo vista executando certas práticas yogues para se ver livre de alguns de seus males, mas no fim da década de 70 e em 1981 ela não mais respondeu a nenhuma prece ou apelo para cuidar de sua recuperação. Ela cumpria seus compromissos sempre serena, mas foi aos poucos se retirando das massas e os devotos foram se acostumando a ter menos acesso e ver menos frequentemente Sri Ma.

Às preces para a sua recuperação ela simplesmente respondia: "Não há kheyala." Numa ocasião, Sri Jagadguru Sankaracharya de Shringeri, Sarada Peetham, quis convidá-la para uma cerimônia anual "Durga Puja" e insistiu que ela devia se livrar rapidamente daquelas doenças para comparecer ao evento.
Ela respondeu no seu usual tom sereno e amoroso; "Este corpo não tem doença alguma paizinho, ele está apenas sendo chamado de volta ao imanifesto. Tudo que você vê acontecendo agora está conduzindo à este evento." No dia seguinte ao desejar-lhe boa viagem, ela novamente explicou sua impossibilidade de viajar dizendo: "Como Atma, eu sempre estarei com você."
Como uma mãe que sabe que os filhos têm que caminhar sozinhos, Sri Ma foi se afastando dos devotos para que eles não sentissem sua falta. Não respondia às cartas, entretanto os correspondentes sentiam em seus corações suas questões respondidas. Não atendia às suas funções usuais no Ashram, e parou de se alimentar por vários mêses tomando apenas um pouco de água ocasionalmente.
Seus últimos dias foram no Ashram de Kishenpur. Ela não fez nenhuma despedida apenas disse "Sivaya namah" na noite do dia 25, este mantra era a indicação da dissolução final de suas ligações com o mundo. Ela tornou-se imanifesta na Sexta feira, 27 de Agosto de 1982 em torno das 20:00h.
Sri Ma esteve entre nós em um tempo conturbado. ela permaneceu sempre junto ao seu povo, mantendo vivos os ideais milenares das tradições da Índia. Ela compreendeu as implicações existenciais dessa nossa era tecnológica, e ao seu modo colocou esta realidade em uma perspectiva adequada àqueles que desejam ver além disso tudo. Em resumo, sua mensagem é que Deus está tão presente hoje entre os homens como esteve nas eras passadas.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Gíri Bala - Mulheres espiritualizadas 3

 

Ali vivia a criatura abençoada pelo Senhor com o sinal dos que não têm fome. Constantemente boquiabertos se mostravam os habitantes da aldeia, jovens e velhos, nus e vestidos - as mulheres, um pouco à distância, mas também interrogativas - homens e meninos, sem nenhum rubor, colados aos nossos tornozelos, enquanto seus olhos fixavam o espetáculo sem precedentes.
"Uma figura baixa logo surgiu no vão da porta - Gíri Bala! Envolvia-se num traje de seda cor-de-ouro baço; segundo o costume tipicamente hindu, ela avançou, espiando-nos com modéstia e hesitação por sob a dobra superior do manto de swadéshi que lhe cobria a cabeça. Seus olhos reluziam como brasas queimando sem chama, por entre as Sombras da mantilha; cativou-nos seu rosto de benevolência e auto-rea-lização, livre da mácula do apego terrestre.
"Ela se aproximou mansamente e concordou em silêncio com o nosso pedido de fotografá-la e filmá-la várias vezes com nossas câmaras. Paciente e tímida, ela suportou nossas técnicas fotográficas, de ajuste e posição e de arranjos de luz. Por fim, tínhamos guardado, 1)ara a posteridade, muitas imagens da única mulher no mundo que se sabe ter vivido sem comer nem beber por mais de cinqüenta anos (Teresa Neumann, naturalmente, jejua desde 1923). Muito maternal era a expressão de Gíri Bala, ao permanecer diante de nós, inteiramente coberta por sua vestimenta solta e flutuante, sem que nada se visse de seu corpo a não ser a face de olhos baixos, as mãos e os pequenos pés. Um rosto de paz invulgar e de inocente equilíbrio - lábios largos, trêmulos, infantis, um nariz feminino, olhos estreitos e reluzentes, e um sorriso pensativo."
Compartilhei das impressões do sr. Wright sobre Gíri Bala; a espiritualidade a envolvia toda, semelhante ao seu véu de suave brilho. Ela fez o gesto de prônam diante de mim, conforme a tradicional saudação de uma dona de casa a um monge. Seu encanto simples e sorriso quieto deram-nos uma acolhida superior à oratória melíflua; es-quecida ficou a nossa difícil viagem sob a poeira.
A diminuta santa sentou-se de pernas cruzadas na varanda. Embora demonstrasse os sinais da idade, não tinha aspecto macilento; a pele cor-de-oliva conservava sua tradicional tonalidade pura e saudável.
- Mãe - disse eu, em bengali - durante mais de vinte e cinco anos pensei com ansiedade nesta verdadeira peregrinação! Quem me referiu sua vida sagrada foi Sthiti Lal Nundy Babú.
Ela acenou com a cabeça, em sinal de reconhecimento: - Sim, bom vizinho em Nawabgani.
- Atravessei o oceano e estive longe durante muitos anos, mas nunca esqueci meu plano de vê-la, um dia. O drama sublime que a senhora está representando tão imperceptivelmente deveria ser proclamado a um mundo que há longo tempo esqueceu o divino alimento interior.
Por um instante, a santa ergueu os olhos, sorrindo com sereno interesse.
- Babá (Venerado Pai) sabe o que é melhor - respondeu ela, humildemente.
Fiquei contente por ela não ter recebido minha sugestão como uma ofensa; ninguém jamais como os iogues e as ióguines reagirão à idéia de publicidade. Em regra, eles a evitam, desejosos de prosseguir em silêncio a profunda investigação da alma. Uma autorização interna, quando chega a hora, lhes permite exibir suas vidas abertamente, em benefício das mentes que buscam a verdade.
- Mãe - continuei - perdoe-me, então, por sobrecarregá-la com tantas perguntas. Por favor, responda somente às que lhe agradarem; compreenderei seu silêncio também.
Ela estendeu as mãos em gesto gracioso: - Responderei com prazer, na medida em que uma pessoa, insignificante como eu, possa dar respostas satisfatórias.
- Oh, não, insignificante não! - protestei sinceramente. - A senhora é uma grande alma.
- Sou a humilde serva de todos - E fantasticamente, ela acrescentou: - Gosto de cozinhar e de alimentar os outros.
"Passatempo estranho - pensei eu - para uma santa que não come! "
- Que seus próprios lábios me digam, Mãe: é verdade que vive sem nenhum alimento?
- É verdade. - Ela se manteve silenciosa por alguns instantes; seu próximo comentário indicava que estivera lutando com o cálculo mental. - Desde a idade de doze anos e quatro meses até minha idade atual de sessenta e oito (um período superior a cinqüenta anos), -não ingeri alimento nem tomei líquidos.
- Não sente a tentação de comer?
- Se eu sentisse necessidade de alimentos, teria de comer. - Ela afirmou com simplicidade e, não obstante, com uma classe régia, esta verdade axiomática conhecida num mundo que gira em torno de três refeições por dia!
- Mas a senhora se alimenta de alguma coisa! - Havia em meu tom de voz uma objeção.
Entendendo imediatamente, ela sorriu: - Sem dúvida!
- Sua nutrição provém das energias sutis do ar e da luz sol e do poder cósmico que reabastece seu corpo através do bulbo raquiano.
- Babá sabe. - Ela novamente concordou, em sua maneira de ser suave e sem ênfase.
- Mãe, por favor, conte-me algo de sua vida, de seus primeiros anos. Ela tem profundo interesse para todos na índia e até para nossos irmãos e irmãs além dos mares.
Gíri Bala pôs de lado sua habitual reserva, mitigando a tensão com uma conversa informal.
- Assim seja. - Sua voz era baixa e firme. - Nasci nesta região -de florestas. Minha infância nada teve de excepcional, a não ser a aberração de um apetite insaciável. Meu noivado ocorreu aos nove anos de idade. "Filha", advertia minha mãe freqüentemente, "trate de controlar sua voracidade. Quando chegar o tempo de viver entre estranhos, em casa da família de seu marido, que pensarão de você, quando a virem comendo sem parar? "
"A calamidade que ela previra, aconteceu. Eu tinha apenas doze anos quando me reuni à família de meu marido em Nawabganj. De manhã, à tarde, e à noite, minha sogra me humilhava para que eu sentisse vegonha de meus hábitos de gula. Suas repreensões foram, porém, uma bênção disfarçada; despertaram minhas tendências espirituais adormecidas. Certa manhã, ela foi impiedosa em sua tarefa de ridicularizar-me.
"- Nunca mais comerei enquanto viver - disse eu, sentindo a ferroada até a medula - e lhe darei provas em breve.
"- Ah, é? - Minha sogra riu-se com menosprezo. -- Como pode viver sem alimentação quem não pode viver sem superalimentação?
"Este comentário era irrefutável! Contudo, uma resolução de aço apoderara-se de meu coração. Em lugar solitário, procurei meu Pai Celestial. Rezei incessantemente: Senhor, eu Te suplico, envia-me um guru, alguém que possa ensinar-me a viver de Tua luz e não de alimentos.
"Um êxtase me acometeu. Sob um encantamento beatífico, parti para o ghat de Nawabganj, no Ganges. Em caminho, encontrei o sacerdote da família de meu marido.
Venerável senhor - disse eu confiantemente - diga-me, por favor, como poderei viver sem comida.
"Ele demorou os olhos em mim, sem responder. E afinal falou, consoladoramente: - Filha, venha ao templo hoje à noite. Oficiarei uma cerimônia védica especialmente em sua intenção.
"Esta resposta indefinida não era a que eu procurava; continuei a andar em direção ao ghat. O sol matutino perfurava as águas; purifiquei-me, como se fosse para uma iniciação sagrada. Ao me afastar da margem do rio, de roupa molhada sobre o corpo, à luz clara do dia, vi meu mestre materializar-se diante de mim!
"- Minha querida pequena - disse ele com voz de amorosa compaixão - sou o guru enviado por Deus para satisfazer sua prece urgente. Ele ficou profundamente comovido com a essência invulgar dessa prece! De hoje em diante, você viverá da luz astral; os átomos de seu corpo se reabastecerão de carga na corrente infinita."
Gíri Bala silenciou. Tomei o lápis e o bloco de apontamentos do sr. Wright e traduzi para o inglês alguns trechos de minha conversa a fim de informá-lo.
A santa reatou a conversação, com voz suave, quase inaudível. "O ghat achava-se deserto, mas meu guru lançou em torno de nós uma aura de luz protetora, para que nenhum banhista vagando por ali nos viesse molestar. Ele me iniciou numa técnica de kria que liberta o corpo cia dependência para com a grosseira alimentação dos mortais. A técnica inclui o uso de certo mantra e um exercício respiratório mais difícil que os realizáveis por uma pessoa comum. Não implica magia nem drogas medicinais; nada além de kria.
Imitando o repórter de um jornal norte-americano que, sem perceber, me ensinou sua arte, interroguei Gíri Bala sobre muitos assuntos que, pensei, seriam de interesse para o mundo. Ela me deu, fracionadamente, as seguintes informações:
Nunca tive filhos; há muitos anos atrás, fiquei viúva. Durmo pouquíssimo, já que sono e vigília são iguais para mim. Medito à noite, cumprindo meus deveres domésticos durante o dia. Sinto ligeiramente a mudança de clima de uma estação para a outra. Nunca estive doente nem sofri jamais qualquer doença. Sinto apenas uma leve dor quando sou ferida acidentalmente. Não tenho excreções físi-cas. Posso controlar as batidas de meu coração e minha respiração. Contemplo freqüentemente em visões, meu guru e outras grandes almas.
- Mãe - perguntei-lhe - por que não ensina a outros o método de viver sem alimento?
Minhas ambiciosas esperanças foram destruídas no mesmo instante, embora eu pensasse nos milhões de famintos que há no mundo.
- Não - ela abanou a cabeça. - Recebi ordens estritas de meu guru para não divulgar o segredo. Ele não pretende intrometer-se rio drama divino da criação. Os agricultores não me agradeceriam se eu ensinasse muita gente a viver sem alimentos! As frutas deliciosas Jazeriam no solo, sem mais utilidade. Parece que a miséria, a inanição, a doença são chicotes de nosso carma que nos impelem, por fim, a buscar o verdadeiro significado da vida.
- Mãe - disse eu, lentamente - que adianta então, que utilidade há nisto, em ter sido eleita para viver sem alimentar,
- Provar que o homem é Espírito. - Seu rosto iluminou-se de sabedoria. Demonstrar que, pelo adiantamento na senda de Deus, o homem pode gradualmente aprender a viver da Luz Eterna e não da comida.
A santa entrou em profundo estado meditativo. Seu olhar dirigiu-se para cima: a suave profundeza de seus olhos tornou-se inexpressiva. Ela exalou um certo suspiro, prelúdio do transe extático, isento de respiração. Por algum tempo, voara ao reino onde não existem perguntas, ao paraíso da beatitude interior!
A escuridão tropical descera. A luz de uma lâmpada de querosene bruxuleava com intermitência sobre as cabeças de muitos camponeses que se haviam sentado de pernas cruzadas, silenciosamente, nas sombras. Coriscantes vaga-lumes e remotas lâmpadas a óleo das choças teciam rútilos e caprichosos arabescos na noite de veludo. Soava o momento doloroso da partida; uma jornada lenta, tediosa, era a perspectiva do pequeno grupo.
- Gíri Bala - disse eu quando a santa abriu os olhos - dê-me, por favor, uma lembrança: uma pequena tira de um de seus sarís.
Logo ela voltou com um sarí de seda de Benares, oferecendo-a com a mão, enquanto se prostrava repentinamente no solo.
- Mãe - disse eu com reverência - permita-me, com mais razão, tocar os seus pés sagrados!

Fonte terado do Autobiografia de Um Yogue.

Namastê, Gratidão.

Amma Amritanandamayi - Mulheres Espiritualizadas 2

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Mātā Amritanandamayī Devi, mais conhecida como Amma (que significa mãe), nasceu a 27 de setembro de 1953 na pequena vila de Parayakadavu (onde criou seu Ashram conhecido como Amritapuri), próxima a Kollam, Kerala (Sul da Índia). É muito admirada dentro e fora da Índia e respeitada como uma humanitarista; muitos a reverenciam como uma Mahatma (Grande Alma) e uma santa viva: a santa dos abraços.

Biografia

Ao nascer, recebeu o nome de Sudhamani e já durante a sua infância era muitas vezes vista em um estado de profunda meditação.
Grande devota de Krishna, aos cinco anos já compunha pequenos cantos devocionais espontaneamente. Quando completou nove anos, sua mãe adoeceu e ela se ofereceu para cuidar da casa e dos 7 irmãos. Deixou a escola, apesar de ser muito aplicada e possuir memória fotográfica conforme suas professoras relataram. Oferecia ao Senhor cada instante de sua longa jornada de trabalho. Contudo, os membros da sua família não entendiam seu processo de interiorização e por isso a castigavam. Ao terminar sua lida doméstica, já a noite, Sudhamani ia meditar, cantar ou rezar. Via muita dor e sofrimento na pobreza de sua aldeia. A crueldade e o egoísmo do mundo só aumentava sua devoção a Deus. Seu objetivo então, ao buscar a Divindade, passou a ser consolar a dor e o sofrimento de todos os seres. Começou então a doar alimentos de sua própria casa e comprar remédios para os vizinhos pobres, muitas vezes pagando o preço dos castigos por doar tanto.
Aos 22 anos, Amma (ou mãe, nome que emprega desde então) passou a difundir sua mensagem espiritual e inúmeras pessoas a procurá-la para receber suas bênçãos. Alguns jovens aspirantes espirituais a Ela se juntaram como discípulos e criaram uma pequena congregação religiosa (ashram) que depois cresceu continuamente. Mais tarde, construiu-se um templo dedicado à Deusa Kali no Ashram. A partir de 1987, começou a ser internacionalmente conhecida com o início de suas peregrinações ao exterior. A "Mãe" é reverenciada por milhões de pessoas no mundo inteiro pela sua altura espiritual, humildade e dimensão da obra social.

En 1993, Amma foi designada uma das três representantes da fé hinduísta no parlamento das religiões do mundo, em Chicago. Em agosto de 2000, foi convidada pela segunda vez para ir à ONU para participar na Conferência Mundial pela Paz. Já em outubro de 2002, a ONU concedeu-lhe o prêmio à não-violência "King - Gandhi", e em julho de 2004 discursou no Parlamento das Religiões do Mundo no Fórum de Barcelona.
Amma obteve ainda mais projeção em 2004, pelo fato do Ashram ter sido o maior doador privado na tragédia da tsunami e que afligiu boa parte do sul da Índia. Doou 23 milhões de dólares. Poucos anos depois doou também um milhão para o Fundo das Vítimas do Furacão Katrina.  No final de 2013 dou 2 milhões de dólares para as vítimas do super tufão Haiyan nas Filipinas.

terça-feira, 2 de maio de 2017

História de Sri Sarada Devi - Mulheres Espiritualizadas (yogini)

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Carinhosamente chamada de "Santa Mãe", Sri Sarada Devi (1853-1920) foi a esposa e companheira espiritual de Sri Ramakrishna. De acordo com os costumes vigentes na Índia daquela época, foi-lhe prometida em casamento quando tinha apenas 5 anos de idade e ele, 23.

Mais tarde, ocorreram dois encontros significativos com Sri Ramakrishna: o primeiro aos 13 anos e o segundo aos 14 anos, quando teve a oportunidade de conviver com ele, por um breve período, e receber seus primeiros ensinamentos.
Aos 18 anos, quando ainda vivia com seus pais em Jayrambati, começou a ouvir rumores de que seu marido havia enlouquecido. Sentiu que seu dever de esposa, nesse momento, era o de ir ao seu encontro e oferecer-lhe o seu apoio.
Nessa época, Ramakrishna já estava totalmente dedicado às suas práticas espirituais, levando uma vida de monge celibatário. Foi nessa condição, e com toda a gentileza, que recebeu sua jovem esposa, que se sentiu aliviada ao concluir que ele se encontrava em perfeita saúde, tanto física como mental.
Algum tempo depois, Ramakrishna lhe perguntou o que ela esperava dele como marido. Ela respondeu que viera para acompanhá-lo e servi-lo em sua caminhada espiritual. Desta forma, em vez de buscar a consumação conjugal, ela tornou-se sua primeira discípula.
Sarada Devi, mesmo com sua maneira simples e despretensiosa, tinha sua própria grandeza espiritual. Serviu a Ramakrishna e a seus discípulos durante muitos anos. Após a morte de Ramakrishna, ela deu continuidade a seu ministério espiritual, servindo de guia e inspiração para a ordem monástica que então se iniciava.
Ela foi um modelo único de discípulo ideal, monja, esposa e mestra. Para seus incontáveis filhos espirituais foi mãe amorosa. Todos aqueles que tiveram contato com ela ficaram profundamente tocados por seu amor incondicional e trabalho altruísta. Todos eram seus filhos, independente de nacionalidade, filiação religiosa ou posição social. Ninguém, jamais, foi rejeitado. Ela acolheu a todos, sempre, sem distinção.


Sri Ramakrishna considerava Sarada Devi como uma manifestação especial da Divina Mãe do universo. Em 1872, na noite do Phala-harini-Kali-puja, ele cultuou Sarada Devi como a Mãe Divina num ritual especial, e assim despertou a Maternidade universal que jazia oculta em seu interior. Quando os discípulos começaram a se reunir ao redor de Sri Ramakrishna, Sarada Devi aprendeu a considerá-los como seus próprios filhos. O quarto no qual ela vivia em Dakshineshwar era muito pequeno para ser habitado além de inóspito; e por muitos dias ela não encontrava oportunidade de se reunir com Sri Ramakrishna. Mas suportava todas as dificuldades silenciosamente e vivia em paz e contentamento enquanto servia um número crescente de devotos que vinham para ver Sri Ramakrishna.


Depois do falecimento de Sri Ramakrishna em 1886, Sarada Devi levou alguns meses em peregrinação, e então foi para Kamarpukur onde viveu em grande privação. Ao tomarem conhecimento de sua triste condição, os discípulos de Sri Ramakrishna a trouxeram para Calcutá. Este foi um marco decisivo em sua vida. Ela passou agora a aceitar aspirantes espirituais como seus discípulos, e se tornou o portal aberto à imortalidade para centenas de pessoas. Seu grande coração materno, dotado de amor e compaixão sem limites, abraçou a todas as pessoas sem qualquer distinção, incluindo muitos que haviam levado vidas degradantes.
Quando as discípulas ocidentais de Swami Vivekananda vieram a Calcutá, a Santa Mãe as recebeu de braços abertos como suas próprias filhas, ignorando as restrições da sociedade ortodoxa daqueles dias. Embora tivesse crescido em uma sociedade rural conservadora, sem qualquer acesso à educação moderna, ela sustentava um ponto de vista progressivo, e apoiou irrestritamente Swami Vivekananda em seus planos de rejuvenescimento da Índia e de apoio ao povo e às mulheres. Dava especial atenção à escola para meninas fundada pela Irmã Nivedita.
Passou parte de sua vida em Calcutá e parte em sua aldeia natal Jayrambati. Durante os anos de permanência em Calcutá, suas necessidades foram atendidas pelo Swami Yogananda, um discípulo de Sri Ramakrishna. Nos anos posteriores suas necessidades dela foram atendidas por outro discípulo de Sri Ramakrishna, Swami Saradananda que construiu-lhe uma nova casa em Calcutá.


Sri Ramakrishna deixou este mundo em 1886. Sarada Devi tinha então trinta e três anos. Tendo vivido num plano não físico de relacionamento com seu marido, ela não experimentou o sentimento de viuvez quando da morte deste. Para ela, ele continuou a ser uma realidade vivente até o final dos seus dias. E pelos trinta e quatro anos seguintes, ela viveu uma vida complexa em seus papéis e variada em sua riqueza, doce e silenciosa, que ganhou para si o carinhoso título de 'Sri Ma', 'a Santa Mãe', pelo qual ela passou a ser conhecida.
Foi convidada a ser a guia espiritual dos monges da Ordem Ramakrishna, constituída inicialmente pelos discípulos diretos de Sri Ramakrishna sob a liderança do Swami Vivekananda; e a ser guru de um crescente círculo de homens e mulheres famintos de espiritualidade. Sua eminência espiritual e o poder divino da sua personalidade capacitaram-na a desempenhar este significativo papel com facilidade e naturalidade.


Mas foi no papel de uma mulher do lar, no seio do seu próprio círculo familiar constituído por seus irmãos de sangue, cunhadas, e sobrinhos, em meio a uma série de problemas criados por estes, que a santa mãe manifestou uma faceta exclusiva do seu caráter e personalidade. É este aspecto da sua personalidade que provê um magnífico exemplo de espiritualidade prática capaz de inspirar a todos os homens e mulheres. A monja brilhou através da dona de casa, e ambas brilharam através do coração de uma mãe amantíssima. Longe de se esquivar de um mundo de distrações, ela o abraçou, envolvendo-o em seu amor. E no meio de milhares de distúrbios, ela preservou a naturalidade e a paz da sua personalidade.


Nos relatos históricos vigentes nunca houve outra mulher que visse a si mesma como a Mãe de todos os seres, inclusive dos animais e dos pássaros, e que tenha dedicado sua vida inteira para servi-los como seus próprios filhos, com inesgotável espírito de sacrifício e abnegação. Sobre o seu papel na missão de Sri Ramakrishna, declarou: "Meu filho, você sabe que o Mestre tinha uma atitude maternal para com todos. Ele me deixou aqui para manifestar aquela Maternidade Divina no mundo".

Verificação é prova de uma teoria ou de uma afirmação. Somente o teste da vida demonstra a genuinidade de uma virtude moral ou de um valor espiritual; virtudes são melhor examinadas no infortúnio que na boa sorte. É bastante fácil manter-se a postura e a elegância nos bons tempos; mas é somente no mau tempo que comprovamos a sua genuinidade. A tranqüilidade, postura, elegância, e o espírito de amor incondicional e serviço impessoal, que Sarada Devi expressou em sua vida diária no contexto de um ambiente altamente perturbador de total materialidade, a possessão deste poder por um homem ou uma mulher os torna puros e santos. A expressão deste poder na vida é amor. Sarada Devi foi a verdadeira personificação desta pureza, santidade, e amor que é o significado do ideal de maternidade em sua melhor e mais elevada acepção. Sua pureza está incorporada no coração de cada mulher. Uma mulher comum apreende em sua vida somente uma fração deste ideal pelo qual ela resplandece em terna amabilidade e santidade. Uma função meramente biológica se torna elevada graças ao insuflo de um valor espiritual. Mas este valor espiritual resplandeceu em sua plenitude, ainda que fora do contexto biológico, na personalidade da Santa Mãe, demonstrando por isso o ideal em sua forma simples. Fora a abundância do seu coração, ela deu seu amor a todos sem qualquer distinção, justificando assim o carinhoso epíteto de ‘Santa Mãe'.


Swami Vivekananda considerava Sri Sarada Devi como o ideal para as mulheres da modernidade devido à sua imaculada pureza, extraordinária paciência, serviço abnegado, amor incondicional, sabedoria e iluminação espiritual. Ele acreditava que com o advento da Santa Mãe, havia começado o despertar espiritual das mulheres nos tempos modernos.

 Namastê, Gratidão.